ARTE*!

(em todas as virgulas desse post pode-se adicionar uma expressão "geralmente" entre as orações!)


Nós, artistas, vivemos reclamando de falta de dinheiro ou de maus pagamentos pelos nossos trabalhos. O que acontece é que vivemos num país que realmente dá pouca ou nenhuma importância pra arte, o que faz com que as oportunidades de se trabalhar com um salário que passe do "suficiente pra viver" sejam poucas e ainda assim, difíceis de se conseguir.


No meu caso, é o teatro. Por algum motivo de dimensão maior que a compreensível, me vi encantada pelos palcos e entendi que aprender ou tentar viver de qualquer outra coisa que não fosse a arte não me faria feliz completamente. Daí pra frente a confusão ao invés de diminuir só aumentou. Eu descobri que não saberia escolher UM caminho apenas e que, por hora, preciso experimentar vários tipos de trabalho relacionados a isso até descobrir o que gosto mais, ou aprender a mexer com todos eles.


Fiz o curso de teatro, voltei a dançar, posso dar conta sozinha dos meus próprios figurinos, vez ou outra me arrisco a escrever e se tudo der certo logo logo vou conseguir ler uma partitura e canta-la lindamente.. fora que ainda quero aprender a fazer iluminação, controlar a voz e os movimentos frente à camera e a escrever projetos para editais!
Enfim.. em tantas possibilidades que o teatro me trouxe, eu ainda não soube escolher uma só. E nem sei se algum dia vou precisar MESMO escolher, como o Chico vive insistindo em me convencer. Eu simplesmente quero experimentar de tudo que me atrai e não são poucas coisas. E na verdade, tem vontade e esforço dentro de mim suficiente pra tudo isso!


O problema é quando vem uma oportunidade do mundo real (o das pessoas que trabalham com horários e salários fixos) bater à porta e fazer a gente pensar que talvez, seja hora de parar de querer engolir todos os livros do andar de cima da Livraria Cultura da parte de artes e começar a se preocupar com o crédito do bilhete único, que quando era de estudante sobrava e agora não chega nem até o dia 20! Quando alguém chega com uma proposta dizendo ser a "chance da vida" de qualquer um e você se sente culpada por saber que não é a chance da SUA vida!
E parece que tudo que você tinha como valores e focos vão junto com a água do banho que a gente não quer sair nunca pq sabe que ainda não decidiu o que fazer depois dele. É difícil acordar e dizer "NÃO" pra uma voz que soa como se soubesse que um dia você vai se arrepender de ter negado aquilo. Como quem te chama de idiota por não aceitar aquilo que mais faz falta na vida da maioria das pessoas. Dinheiro. Muito dinheiro.


OK! Vamos. Eu vou conversar, vamos ver, pode ser que dê certo.
Eu posso fazer o tal trabalho de olho fechado, talvez melhor que qualquer pessoa. Mas ele vai exigir de mim todo esse tempo que eu ando dedicando a me aprimorar no caminho que eu escolhi. Ele inevitavelmente vai tirar o tempo e a energia da minha arte.
Eu consigo?
A quem, exatamente, eu estou tentando enganar?!
Pode ser o dinheiro que for. Não é disso que eu quero viver! Pode ser a "chance da vida" de muitas pessoas mas simplesmente NÃO É a minha!
Sou uma alienígena por isso, será?!
Talvez!
Talvez o fato de eu ainda ter "apenas" 19 anos tenha contado.. Talvez se eu tivesse 10 a mais e as coisas fossem mais pesadas e difíceis, eu tivesse aceitado.
Mas não!
Eu estou estudando, aprendendo, indo atrás de um sonho que (ainda) alimento e acredito. Se isso for uma bobeira da idade, que fique registrado aqui, pra eu ver quando crescer que tive planos e lutei por eles.


Não posso ser hipócrita de dizer que não são as cifras as maiores responsáveis pela confusão mental dos últimos dias.
É difícil morar no Tatuapé quando toda sua vida está do centro pra lá. É difícil ter que ficar sem almoçar pq não dá tempo de voltar pra casa e nem dinheiro pra comer na rua. É chato ter 19 anos e ainda ter que pedir dinheiro toda vez que chega perto da porta da rua pra sair. É um saco tudo isso e pensar em mudar TODA essa situação é tentador demais pra alguém (não-acomodado) como eu.
Mas não!
Eu ainda* não tenho conta negativa no banco e nem tanque vazio do carro. Eu ainda* não tenho filho precisando de fralda nem energia elétrica ameaçando ser cortada.
Ainda dá tempo de negar!


Desde pequena eu ouço meu irmão falar bem de um filme que eu sempre quis ver mas ainda não consegui. "Run, Lola, Run!"
É essa expressão que anda ecoando dentro de mim nessas últimas semanas!
Ainda esse ano alcanço as duas décadas de vida e só o que eu consigo repetir pra mim mesma é isso: "Corra, Gigi, CORRA!"


Espero que a pressa não atropele os passos fundamentais de aprendizado que ainda estão por vir!
Espero que esse tenha, realmente, sido um deles! E espero que o orgulho que eu sinto de mim mesma pela força que eu nem sei de onde tirei pra dizer esse tão difícil "NÃO", não se torne arrependimento num futuro próximo.


Espero que pessoas que já passaram por essa confusão e viram que vale a pena (ou não) lutar pelo que se deseja, se manifestem pra me aconselhar nesses dias. Espero realmente que as coisas andem pro lado desejado por mim. E que esse lado, seja o lado certo.


Boa noite.